Esse review foi o "melhor" e de longe o mais sensato que li pelo puteiro chamado internet ...
Realmente críticos devem ser todos ou cornos ou mal amados, o racinha que só faz falar mal de tudo sem nem ter embasamento ( em 99% das vezes se brincar ) ... um VTN pra tudinho ... Pink Floyd RLZ !!
Erik
Assim que o tal “novo disco do Pink Floyd”, Endless River, vazou pela internet, li um verdadeiro tsunami
de críticas negativas. O álbum foi apressadamente enxovalhado de tal
forma – “sonolento” foi o adjetivo mais brando que li a respeito dele –
que fiquei desconfiado: ou a turma baixou arquivos em mp3 com baixa
qualidade de áudio ou ninguém prestou atenção às circunstâncias e o
contexto que envolveram esta “raspa de tacho” por parte do guitarrista
David Gilmour e do baterista Nick Mason.
Sim,
“circunstâncias” e “contexto”. Duas palavras muito negligenciadas em
tempos de retardamento mental generalizado que impera no planeta e que
sempre ajudam muito na hora de entender qualquer álbum de qualquer
artista ou banda.
No caso específico deste Endless River, é
preciso que você entenda que tudo o que se ouve aqui é o resultado da
reunião de uma série de temas compostos em grande parte pelo tecladista
Richard Wright para o álbum Division Bell, de 1994, que foi
justamente o disco em ele mais contribuiu com material de sua autoria.
Ou seja, tudo aqui tem que ser ouvido dentro daquele contexto. Quem tece
críticas negativas a este Endless River sem ter ouvido ou
sequer saber do que se trata o álbum anterior está evidentemente
repetindo algo que ouviu em algum lugar e achou bacana posar de
‘malvado’.
Só que existe um ponto que deve ser analisado com racionalidade. Arrisco em escrever que Endless River foi
a última maneira de atenuar a sensação de culpa de Gilmour e Mason por
permitirem que Wright tivesse sido despedido pelo baixista Roger Waters
em 1979, na época do The Wall. Quando Wright foi recontratado
por Gilmour em oito anos depois, quando o guitarrista já tinha vencido a
batalha jurídica contra Waters pelo nome “Pink Floyd” e lançado um
álbum que, na verdade, era um disco solo levando o nome da banda, A Momentary Lapse of Reason (1987), isto não eliminou completamente a sensação incômoda da omissão do passado.
E
vou além: não descarto a hipótese de surgir mais material do grupo
deixado de lado nas gravações de álbuns do passado. Quem conhece a
discografia pirata da banda sabe a quantidade de temas e ideias que
foram primeiramente testadas no palco e depois abandonadas nas gravações
de estúdio por falta de consenso entre seus integrantes.
Acho
justo que Gilmour tenha lançado este material, extraído de mais de 20
horas de gravações com temas inéditos, como uma forma de homenagear o
amigo, morto em 2008, e não deixar que estes temas tenham sido compostos
em vão. O guitarrista e o batera Nick Mason terminaram de arranjar
alguns temas até então incompletos. Sem crise.
Não “dormi” durante a audição. Muito pelo contrário! O
álbum começa com o som de vozes e lentamente o som de teclados se
ergue, como um alvorecer. E assim “Things Left Unsaid” permanece até o
seu final. O velho som de órgão Hammond e outros timbres característicos
dos teclados que Wright usou nos discos anteriores da banda surgem logo
no início “It’s What We Do”, acentuada por violões em momentos
ocasionais, com a tradicional e lenta cadência rítmica conduzida por
Mason. E tem “aquela” guitarra de Gilmour, sublime como sempre, que
ajuda ainda mais a entender o contexto “Division Bell” em que o tema
estava inserido na época.
A
tensão criada por guitarras, teclados e baterias que reina em “Sum” e
“Skins” remete a ideias que a banda registrou em álbuns anteriores – não
tem como não lembrar de “On the Run”, do The Dark Side of the Moon e de alguns trechos do The Wall-,
enquanto que a delicada “Anisina”, composta por Gilmour, oferece a
“saída otimista” para o clima claustrofóbico reinante momentos antes,
embora resvalando em certa pieguice na sequência harmônica e no sax meio
pentelho que aparece do nada. Já “Talkin’ Hawkin’” poderia ter entrado
perfeitamente em Division Bell, principalmente pela melancolia reinante, pontuada pela guitarra sempre bem colocada de Gilmour.
“Calling” e a curta “Surfacing” têm uma serena grandiloquência que demonstra o apreço dos caras pela new age,
exemplificado com mais nitidez nos vários temas de curtíssima duração
espalhados pelo álbum, como “Ebb and Flow”, “Unsung”, “The Lost Art of
Conversation”, “On Noodle Street”, “Night Light”, “Allons-y (1)”,
“Autumn ‘68”, “Allons-y (2)”, “Eyes to Pearls”. São exatamente pequenas
ideias propostas na época e que tiveram guitarras e outros instrumentos
adicionados posteriormente no ano passado em estúdio, junto com outros
produtores, como Youth, baixista do Killing Joke, e o guitarrista do
Roxy Music, Phil Manzanera.
“Louder
Than Words”, a única faixa com vocais – com letra composta pela mulher
de Gilmour, Polly Samson – é a pequena tábua no meio do oceano onde se
agarram os fãs mais tradicionais da banda, pois é a única que remete ao
som que todos conhecem. É emblemática que seja esta a canção a fechar o
disco, tanto pela letra, que é uma despedida final de Gilmour e Mason ao
espírito de Wright, mas também um recado aos fãs e a todos que não
perceberam que este não é um “disco do Pink Floyd como banda”, e sim um
“álbum do Pink Floyd como um grupo de amigos”.
Por que será que é tão difícil entender isto? Fonte:https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/