sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Ninguém entendeu a homenagem a um amigo no novo álbum do Pink Floyd. Que pena...

Esse review foi o "melhor" e de longe o mais sensato que li pelo puteiro chamado internet ...
Realmente críticos devem ser todos ou cornos ou mal amados, o racinha que só faz falar mal de tudo sem nem ter embasamento ( em 99% das vezes se brincar ) ... um VTN pra tudinho ... Pink Floyd RLZ !! 

Erik




Assim que o tal “novo disco do Pink Floyd”, Endless River, vazou pela internet, li um verdadeiro tsunami de críticas negativas. O álbum foi apressadamente enxovalhado de tal forma – “sonolento” foi o adjetivo mais brando que li a respeito dele – que fiquei desconfiado: ou a turma baixou arquivos em mp3 com baixa qualidade de áudio ou ninguém prestou atenção às circunstâncias e o contexto que envolveram esta “raspa de tacho” por parte do guitarrista David Gilmour e do baterista Nick Mason.
Sim, “circunstâncias” e “contexto”. Duas palavras muito negligenciadas em tempos de retardamento mental generalizado que impera no planeta e que sempre ajudam muito na hora de entender qualquer álbum de qualquer artista ou banda.
No caso específico deste Endless River, é preciso que você entenda que tudo o que se ouve aqui é o resultado da reunião de uma série de temas compostos em grande parte pelo tecladista Richard Wright para o álbum Division Bell, de 1994, que foi justamente o disco em ele mais contribuiu com material de sua autoria. Ou seja, tudo aqui tem que ser ouvido dentro daquele contexto. Quem tece críticas negativas a este Endless River sem ter ouvido ou sequer saber do que se trata o álbum anterior está evidentemente repetindo algo que ouviu em algum lugar e achou bacana posar de ‘malvado’.
Só que existe um ponto que deve ser analisado com racionalidade. Arrisco em escrever que Endless River foi a última maneira de atenuar a sensação de culpa de Gilmour e Mason por permitirem que Wright tivesse sido despedido pelo baixista Roger Waters em 1979, na época do The Wall. Quando Wright foi recontratado por Gilmour em oito anos depois, quando o guitarrista já tinha vencido a batalha jurídica contra Waters pelo nome “Pink Floyd” e lançado um álbum que, na verdade, era um disco solo levando o nome da banda, A Momentary Lapse of Reason (1987), isto não eliminou completamente a sensação incômoda da omissão do passado.
E vou além: não descarto a hipótese de surgir mais material do grupo deixado de lado nas gravações de álbuns do passado. Quem conhece a discografia pirata da banda sabe a quantidade de temas e ideias que foram primeiramente testadas no palco e depois abandonadas nas gravações de estúdio por falta de consenso entre seus integrantes.
Acho justo que Gilmour tenha lançado este material, extraído de mais de 20 horas de gravações com temas inéditos, como uma forma de homenagear o amigo, morto em 2008, e não deixar que estes temas tenham sido compostos em vão. O guitarrista e o batera Nick Mason terminaram de arranjar alguns temas até então incompletos. Sem crise.
Não “dormi” durante a audição. Muito pelo contrário! O álbum começa com o som de vozes e lentamente o som de teclados se ergue, como um alvorecer. E assim “Things Left Unsaid” permanece até o seu final. O velho som de órgão Hammond e outros timbres característicos dos teclados que Wright usou nos discos anteriores da banda surgem logo no início “It’s What We Do”, acentuada por violões em momentos ocasionais, com a tradicional e lenta cadência rítmica conduzida por Mason. E tem “aquela” guitarra de Gilmour, sublime como sempre, que ajuda ainda mais a entender o contexto “Division Bell” em que o tema estava inserido na época.
A tensão criada por guitarras, teclados e baterias que reina em “Sum” e “Skins” remete a ideias que a banda registrou em álbuns anteriores – não tem como não lembrar de “On the Run”, do The Dark Side of the Moon e de alguns trechos do The Wall-, enquanto que a delicada “Anisina”, composta por Gilmour, oferece a “saída otimista” para o clima claustrofóbico reinante momentos antes, embora resvalando em certa pieguice na sequência harmônica e no sax meio pentelho que aparece do nada. Já “Talkin’ Hawkin’” poderia ter entrado perfeitamente em Division Bell, principalmente pela melancolia reinante, pontuada pela guitarra sempre bem colocada de Gilmour.
“Calling” e a curta “Surfacing” têm uma serena grandiloquência que demonstra o apreço dos caras pela new age, exemplificado com mais nitidez nos vários temas de curtíssima duração espalhados pelo álbum, como “Ebb and Flow”, “Unsung”, “The Lost Art of Conversation”, “On Noodle Street”, “Night Light”, “Allons-y (1)”, “Autumn ‘68”, “Allons-y (2)”, “Eyes to Pearls”. São exatamente pequenas ideias propostas na época e que tiveram guitarras e outros instrumentos adicionados posteriormente no ano passado em estúdio, junto com outros produtores, como Youth, baixista do Killing Joke, e o guitarrista do Roxy Music, Phil Manzanera.
“Louder Than Words”, a única faixa com vocais – com letra composta pela mulher de Gilmour, Polly Samson – é a pequena tábua no meio do oceano onde se agarram os fãs mais tradicionais da banda, pois é a única que remete ao som que todos conhecem. É emblemática que seja esta a canção a fechar o disco, tanto pela letra, que é uma despedida final de Gilmour e Mason ao espírito de Wright, mas também um recado aos fãs e a todos que não perceberam que este não é um “disco do Pink Floyd como banda”, e sim um “álbum do Pink Floyd como um grupo de amigos”.
Por que será que é tão difícil entender isto?


Fonte:https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/

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