Galera, esse livro " O Mestre e a Margarida" foi um grande achado que fiz na net, realmente a história é para se fuder, livro muito louco, ainda não o terminei, mas já passei da metade, e afirmo que quanto mais você vai avançando no livro, ele fica mais tenso e psicodélico! Mostrei para um amigo meu o mesmo, e pirou geral ... com certeza é um livro totalmente diferente de muitas laranjas mecânicas e Stephen Kings por ai ... recomendo 10/10 ler essa porra! A lembrando que esse livro tem uma bagagem muito pesada onde na época rolou censura e taxação como satanista e o caralho ...
Erik
-----
-----
... quem és, afinal?
– Sou parte da força que eternamente deseja o mal e eternamente faz o bem.
Fausto, Goethe
![]() |
Capa do livro, publicado no Brasil pela editora Alfaguara |
Em plena Moscou
stalinista, um “camarada” apelidado Mestre ousa escrever um romance
sobre Pôncio Pilatos, narrando com detalhamento digno de um realista
russo o calvário de Yeshua ha-Notzri (Jesus de Nazaré, em hebraico), até
ser pendurado na cruz e morto, apesar da tênue tentativa do promotor de
Yerushalaim (Jerusalém), o próprio Pilatos, de persuadir os
representantes de Roma que aquele pobre diabo merecia o salvo-conduto da
Páscoa. Quando a história é levada para a aprovação oficial, como não
poderia deixar de ser, é massacrada pela crítica adepta do regime. “O
que o camarada está pensando? Deu para escrever sobre crendices agora?”,
devem ter comentado os membros da Massolit, espécie de secretaria
responsável pela publicação de livros no regime soviético. Amargurado
pela rejeição, o Mestre decide queimar seu romance na lareira de casa.
Só que, como lhe diz o diabo em pessoa alguns dias depois, seria
impossível livrar-se assim daquela história. Afinal, manuscritos não
ardem.
Essa é uma parte da trama de O Mestre e Margarida,
romance do escritor ucraniano Mikhail Bulgákov (1891-1940). Iniciado em
1928, o livro só foi finalizado doze anos depois, semanas antes da
morte do escritor. A epopeia para terminar o livro, que fique claro, não
foi nada acidental. Bulgákov, durante a revolução de 1917, lutara pelo
exército branco, contrarrevolucionário, uma condenação à categoria de
escritor maldito depois que os vermelhos tomaram o poder. Era o extremo
oposto de Gorki, o romancista dos bolcheviques, e até por isso não abria
mão de satirizar as contradições que enxergava na sociedade russa, com
tendência para a literatura fantástica – assim como fizera Gógol durante
o século XIX, tendo o regime tzarista como fonte de inspiração – mesmo
que isso resultasse em problemas para ver suas histórias publicadas. Com
essa literatura fantástica, potencializada pelo sarcasmo, Bulgákov
tornou viável uma visita do diabo e sua comitiva à ortodoxa Moscou do
final da década de 20, onde deixou marcas que jamais seriam apagadas,
nem mesmo pela censura oficial. O séquito satânico é composto por
Behemoth, um gato preto que anda sobre duas patas, adora vodca e
espetáculos exagerados; Korôviev, o ardiloso relações públicas do grupo;
Azazello, um ruivo atarracado de ombros largos, caninos à mostra e
feiúra indescritível; e Hella, "uma jovem totalmente nua, ruiva e com
ardentes olhos fosforescentes".
O Mestre e Margarida
divide-se em duas partes: na primeira, é narrada a chegada da comitiva
diabólica à Moscou e as várias confusões que acontecem por conta disso.
Woland, o diabo, um moreno trajando terno, boina e sapatos cinzas, um
olho preto e outro verde, aparece pela primeira vez na capital russa
para Berlioz e Bezdômny, que discutiam em um banco de praça sobre como
escrever um poema que negasse a existência de Jesus Cristo. Interessado
pela conversa que, por conseguinte, negava a existência do próprio Deus,
Woland se aproxima e argumenta em contrário, narrando suas conversas
com Kant e garantindo que presenciou a crucificação de Jesus.
Espantados, os dois russos tomam o “estrangeiro” por algum tipo de mago
esotérico. Entretanto, para o infortúnio de Berlioz e Bezdômny, Woland
prevê um futuro macabro para os dois: o primeiro seria degolado por um
trem naquela noite, e o segundo, acabaria internado em um manicômio.
Quando a profecia se cumpre, nem o céu é limite para o diabo na capital
russa.
O que se vê a partir daí é o
caos, a subversão completa dos valores pregados pelo partido
bolchevique, extremamente endurecido sob o controle de Stálin. Em um
show de magia negra que Woland promove no Teatro de Variedades de
Moscou, a ganância reprimida do povo russo se manifesta quando tem
início uma distribuição de dinheiro estrangeiro – proibido pelo governo –
e rublos, que depois do espetáculo se tornariam papel comum, sem valor;
ou quando as senhoras são convidadas ao palco para adquirirem
vestimentas de luxo que, fora do teatro, desaparecem no ar. Mas talvez
um dos melhores ardis produzido pelo diabo tenha sido na Comissão de
Espetáculos da cidade. Lá, um dos burocratas simplesmente sumira de
dentro do seu paletó que, vazio, continuava a assinar a papelada com uma
velocidade feroz e a dar broncas nos seus subordinados. Melhor retrato
da impessoalidade e alienação das repartições russas seria impossível.
Por meio dessas intervenções, o diabo surge como uma força moralizadora
da sociedade russa, expondo a face mais reprovável do regime comunista.
Já na segunda metade, o livro se
concentra nos personagens-título, mencionados esparsamente nos
capítulos iniciais. O mestre é um escritor de meia-idade que se apaixona
por Margarida, maior incentivadora da carreira literária do amante.
Após a enxurrada de críticas, o Mestre entra em depressão e acaba
internado num manicômio – o mesmo de Bezdômny – enquanto Margarida volta
a viver com o marido em sua mansão. Isso até ser visitada por Azazello,
que lhe faz uma proposta um tanto perturbadora: ser a dama do diabo por
uma noite, durante o baile que este último irá organizar em sua
despedida da cidade. Transformada numa espécie de bruxa, Margarida segue
para o baile voando nua em uma vassoura, um dos trechos mais surreais
do livro. As duas partes da narrativa são entremeadas por capítulos do
romance escrito pelo Mestre, o que produz um contraste interessante.
Enquanto a prosa de Bulgákov é mais solta e interativa, sempre chamando a
atenção do leitor, o romance do mestre tem um formato mais tradicional,
com uma descrição extremamente meticulosa da Jerusalém bíblica – o que
denota um extenso trabalho de pesquisa de Bulgákov –, diálogos austeros e
profundos, bem diferentes do estilo mais trivial que predomina no resto
do romance.
O martírio de Mikhail Bulgákov para ver seus trabalhos publicados começa em 1926, um pouco antes de iniciar O Mestre e Margarida.
Para se ter uma ideia do tamanho da resistência aos seus escritos, sua
obra só foi publicada integralmente na Rússia depois da glasnost
de Mikhail Gorbachev, na década de 80. Curiosamente, apesar de ter sua
carreira prejudicada por não se submeter ao cabresto do regime, consta
que Bulgákov era admirado por Stálin. Certa vez, inclusive, o escritor
enviara uma carta desesperada para o ditador, pedindo emprego. E foi
atendido! É claro, ficando sob vigilância estatal no teatro em que
trabalhava.
Com trechos e situações que podem ser entendidos como autobiográficos, O Mestre e Margarida
é também uma reflexão sobre sentimentos como a perseverança e a
bondade, tema presente em uma das conversas entre Jesus e Pilatos. Em
momentos distintos da obra, Jesus e o diabo expressam, ironicamente, uma
mesma visão: não há Bem ou Mal absoluto; a covardia é a pior das
fraquezas humanas. Fraqueza à qual, apesar das adversidades, Bulgákov
não sucumbiu, e fez publicar seu romance depois de tentar queimá-lo,
como faz o personagem-título durante o livro, tornando verdadeira mais
uma vez a já citada frase do diabo que se tornou proverbial na Rússia:
manuscritos não ardem.
O Mestre e Margarida na cultura pop
![]() |
Capa do CD Beggars Banquet, que contém a música Sympathy for the Devil |
Apesar dos
contratempos, as marcas deixadas pelo romance de Bulgákov, considerado
por críticos literários um dos melhores do século XX, perduram até hoje,
transportando-se para outras áreas da cultura. A música Sympathy for the Devil, da banda inglesa Rolling Stones, foi inspirada no livro; assim como os Versos Satânicos, que levaram o Aiatolá Khomeini a proferir uma ordem de execução contra o escritor Salman Rushdie; Pilates, canção do grupo americano Pearl Jam, também teria como fonte de inspiração O Mestre e Margarida, tal como Love and Destroy,
de Fran Ferdinand, seria baseada no baile de despedida do diabo em
Moscou. Com enorme potencial para ser levado ao cinema, o livro chegou a
ser roteirizado por Roman Polanski, mas nunca foi filmado. O diretor
declarou que esse roteiro é a melhor coisa que ele jamais realizou.
Quando a obra de Bulgákov
finalmente foi publicada de maneira integral na Rússia, os moradores de
um edifício da rua Sadôvaia, em Moscou, começaram a notar estranhas
intervenções nas paredes do prédio. De uma noite para a outra, os
corredores ganharam grafites, dentre os quais destacavam-se os muitos
desenhos de um enorme gato preto, em poses variadas: bebendo vodca de
uma tacinha, jogando xadrez, incendiando uma casa. O tal gato é
Behemoth, e os grafites são obra de leitores do livro de Mikhail
Bulgákov que faziam peregrinação ao prédio onde o escritor viveu e que
também foi cenário do romance, abrigando o apartamento onde a comitiva
do diabo se hospedara.
As manifestações dos leitores
fizeram com que o antigo apartamento de Bulgákov fosse transformado num
museu dedicado ao escritor. As citações do livro, elogios a Bulgákov e
discussões apaixonadas sobre os temas de O Mestre e Margarida, eternizados no grafite, são uma prova do carinho que até hoje os fãs têm pelo escritor maldito da Rússia de Stálin.
Fonte:resenhanodiva.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário