Me deparei com essa matéria hoje e achei do caralho!! Principalmente a parte que fala da banda Emerson Lake Palmer ... não deixem de ler !!
Erik
Antes de qualquer coisa, cabe esclarecer primeiramente o papel do
rock na segunda metade do século XX e, em segundo lugar, de uma de suas
ramificações, o rock progressivo ou prog rock, prog para os íntimos.
Desde
o seu surgimento, por volta de 1955, nos EUA, o rock esteve na frente
da maior parte do acontecimentos considerados perigosos e era
potencialmente ameaçador para os detentores do poder no mundo ocidental.
A mudança dos costumes, revolução sexual, lutas pelos direitos dos
negros e dos homossexuais, tudo isso teve como trilha sonora o rock, que
no final dos anos 1960 vivia o seu auge.
Acontece que por volta
de 1970 o chamado sonho hippie desabou debaixo de muita pancada e tendo
como pano de fundo a morte de um negro assassinado por um membro de uma
gangue de motoqueiros fascistas no festival de Altamont. Nesse momento
chegamos ao ponto em que vou expor o segundo esclarecimento desse
artigo.
O rock progressivo já existia em 1970. Tinha sido uma
consequência natural da psicodelia, movimento surgido por volta de 1967
que advogava a expansão da mente por meio de “aditivos químicos” e que
foi reponsável pelo surgimento de um estilo do rock que primava pela
experimentação sonora a qual acabou dando origem ao já citado prog rock
no momento em que bandas como KING CRIMSON e
PINK FLOYD começaram a lançar álbuns com músicas de 20 minutos ou mais.
Na
época, esse estilo era aclamado pela crítica e pelo público, ou parte
dele, até que no meio da década surge o punk rock, com suas músicas de
três minutos com nenhuma técnica e se sustentando apenas com sua
ideologia esquerdista de araque e endeusado por críticos, como a raposa
chamada Lester Bangs (apesar de ele ter de desiludido rápido) e todos os
seus filhotes (estes ainda se iludem) que estão por aí até hoje,
inclusive no Brasil.
Estas pessoas costumam dizer que o rock
progressivo era uma música escapista, que ia contra à “estética do pop”
onde, para ser bem claro, quanto pior, melhor. Além disso, agora
chegamos ao assunto principal deste artigo, diziam (e ainda dizem) que o
prog rock era elitista e que o punk trouxe a música de volta ao povo,
pois o rock estava cada vez mais distante dele. Como se isso não fosse
bastante, dizem também que o rock progressivo transformava artistas em
deuses e afastava o público do artista.
Bem, o prog não é
totalmente inocente de algumas dessas acusações. Fomentou o endeusamento
de ídolos, assim como o próprio punk. Ou Sid Vicious, o baixista do
SEX PISTOLS não é um ídolo? Quanto ao afastamento do artista, até mesmo Roger Waters, baixista do
PINK FLOYD,
ícone do rock progressivo, diz o mesmo. E o punk também pecou nesse
aspecto, pois os músicos dessa forma musical nunca evitaram em fazer
shows em grandes salas de concertos e, em alguns casos, até mesmo em
estádios. Para piorar, os já citados
SEX PISTOLS
chegaram a fazer apresentações em shopping centers, o que os
aproximavam do público, porém expunha o paradoxo que era músicos
supostamente esquerdistas e antissistema se apresentando nessas
catedrais do capitalismo.
O escapismo estava presente em músicas
de bandas progressivas como o YES, porém, músicas de muita gente
bem-quista pela esquerda, como MERCEDES SOSA e MILTON NASCIMENTO que
foram feitas quando ainda estavam no auge, não tinham nada de
politizadas (alguém poderia me dizer qual é a mensagem política da
música “Cravo e Canela” do álbum “Clube da Esquina”?), o que nada macula
a carreira deles, pois eram artistas que expunham seus pensamentos
ocasionalmente, não líderes revolucionários. Afinal, Marx quando quis
criticar o capitalismo profundamente, escreveu um livro, não compôs uma
música para um grande editor de partituras da Alemanha do século XIX,
quase que equivalentes às grandes gravadoras do século XX.
Além
disso, músicas como “The Gates of Delirium” do YES, que fazia uma
crítica à guerra, ou “21st Schizoid Man” do KING CRIMSON, denunciando a
loucura dos tempos modernos, não eram nem um pouco “alienadas”, ao
contrário de, digamos, “Pet Sematary” dos
RAMONES que falava da importantíssima preocupação dos membros do grupo serem enterrados em um cemitério de animais.
Quanto
à questão da “estética pop”, isso só mostra a caretice disfarçada de
alguns críticos. ELES querem transformar o rock em algo típico de
adolescentes que mal sabem tocar, longe do mundo dos adultos, tornando-o
mais inofensivo. Acontece que o rock progressivo, quando nos
proporcionava uma cena como uma banda como o EMERSON, LAKE AND PALMER
tocando uma peça do compositor erudito MUSSORGISKY, acabava por
ridicularizar os clássicos ao tocar em alto volume e adaptar letras a
músicas consideradas quase que sagradas por certos músicos de
orquestras. Imaginem aquele maestro bem mal-humorado e elitista ouvindo
MUSSORGISKY sendo demolido por três cabeludos ingleses e como cereja no
bolo, um deles passando um módulo de teclado Moog por entre as pernas
durante a execução de “O velho castelo”, uma das partes da suíte
“Quadros de uma exposição”? Existe algo mais esquerdista do que pegar
uma obra burguesa (mas de qualidade inegável) e transformá-la em algo
transgressor?
Esses filhotes de Lester Bangs esquecem que tudo o
que o progressivo fez tinha origens na psicodelia, tão amada por quase
todos eles, que tinha como característica misturar tudo o que desse na
veneta ao rock, derrubando barreiras entre estilos e sem qualquer apego a
nenhuma amarra, inclusive ao tal dos três acordes, muito diferente do
punk, que em atitude muito autoritária, tratava como traidor do
movimento quem tocava uma música um pouquinho mais intrincada.
Para
terminar, o punk não trouxe a música de volta ao povo. Ela continuou na
mão dos mesmos donos de gravadoras que viram em bandas como
SEX PISTOLS e
RAMONES
e cantores como ELVIS COSTELLO (que gravou recentemente alguns álbuns
de música clássica, bem piores e mais elitistas do que qualquer coisa
que o tecladista do YES, RICK WAKEMAN, tenha feito em sua pior fase) uma
grande oportunidade de ganhar muito dinheiro facilmente em uma época de
crise econômica.
O rock progressivo tem vários aspectos
questionáveis, porém aqueles que atiram pedras contra ele costumam ter
seus podres também. Talvez seja hora de reconhecer que estas bandas dos
anos 70, que influenciaram muitos artistas de diferentes estilos, como
por exemplo, MILTON, LÔ BORGES e todos os músicos DO CLUBE DA ESQUINA,
fizeram música de qualidade, bem feita e bem trabalhada. Não quero dizer
que a simplicidade é ruim e que apenas a sofisticação é boa, até porque
muitas bandas progressivas fizeram músicas bem simples (ouçam “One of
These Days” do PINK FLOYD), mas obrigar a todos os artistas a fazerem
música de três acordes para não serem atacados é algo no mínimo
questionável.
Fonte: whiplash.net